E agora? Recordar é reviver
Recordar momentos ou fases de vida traumatizantes é tirar a crosta da ferida.
Partilhar o testemunho é para mim tão difícil como selecioná-lo, aos 60 anos percorremos uma vida.
Escolho partilhar a vivência da perda de audição durante a gravidez, seu impacto na minha situação profissional e familiar.
Ainda é doloroso recordar o período em que lecionei desde a perda de audição à adaptação a próteses auditivas, aos 29 anos.
Recordo a esperança de recuperar a audição, a consulta a médicos, os exames, para constatar que não havia nada a fazer para reverter o processo.
Seguiu-se a depressão, uma tristeza e frustração que a atividade profissional agravou.
Desmoronou-se a minha vida a todos os níveis.
A nível pessoal recordo ir à praia e não ouvir o mar, não ouvir o chamamento das minhas filhas, não conseguir conversar.
Lembro de pedir para escreverem e não gritarem.
Não perceber que alguém tinha chegado ou iniciado conversa.
A nível profissional, não ouvia se falassem baixo.
Passei a ser a "surda"… Depois a "antenas"… Bullying.
O cansaço e a tristeza tornou-se residente.
Poderia falar de síndroma vertiginoso, mas aí digo apenas que atravessar a rua foi uma vitória e conseguir ir ao WC sem ser encostada às paredes ou de gatas foram pequenas vitórias que me marcaram.
A família foi o meu suporte, a minha força, o meu alento: minhas filhas, meus pais…